Revista internacional publica artigo com dados do PMP-BS coletados por pesquisadores do IPeC

A tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) é a maior das 5 espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil. Em 2016 ocorreu um evento incomum de mortalidade dessa espécie na região de Cananéia: um total de 23 animais foram encontrados mortos durante o monitoramento de praias realizado na região de Iguape, Ilha Comprida e Ilha do Cardoso (litoral sul de São Paulo) num intervalo de 4 meses.

Esse é um número bastante expressivo, visto que a média anual de ocorrência da espécie para região varia de 1 a 5 indivíduos. Além disso, a população de tartarugas-de-couro que vive no Brasil é bem pequena e segue ameaçada de extinção: menos de 20 fêmeas desovam anualmente nas praias do Espírito Santo, seu principal sítio de desova no país.

Os pesquisadores do IPeC estudaram esses encalhes e publicaram um artigo que relaciona esse evento incomum de mortalidade de tartarugas a outro evento incomum: uma afloração de águas vivas na região, possivelmente consequente de alterações climáticas. As águas-vivas são o principal alimento das tartarugas-de-couro e isso explicaria a aproximação delas da costa, já que normalmente essa espécie vive em águas mais oceânicas e profundas.

O grande problema é que ao se aproximar da costa, esses animais ficam mais suscetíveis a atividades relacionadas ao ser humano, como a pesca. E foi exatamente isso que um artigo publicado essa semana revelou: os pesquisadores do IPeC avaliaram minuciosamente 10 tartarugas-de-couro que estavam em melhor estado de decomposição e fizeram exames complementares que revelaram lesões cardíacas e respiratórias devido à asfixia. O estudo indica que os achados são altamente sugestivos de interação com rede de arrasto de fundo, um tipo de artefato que possui uma das maiores taxas de captura de animais marinhos entre todas as práticas de pescaria profissional. Além desses achados, o artigo também descreve algumas lesões observadas pela primeira vez nessa espécie em águas brasileiras.

A pesquisadora e médica veterinária Priscilla Carla destaca que esse estudo contribui para o conhecimento acerca dessa espécie que é tão pouco estudada: “Por serem animais oceânicos e com uma população pequena aqui no Brasil, é muito difícil que pesquisadores tenham acesso a carcaças em boas condições de serem estudadas. Além disso, esse artigo pode ser utilizado como evidência científica dos danos que a pesca causa a esses animais que estão criticamente ameaçados de extinção”.

O artigo foi publicado na revista européia Journal of Comparative Pathology, com o título: “Pathological Findings in Leatherback Sea Turtles (Dermochelys coriacea) During an Unusual Mortality Event in São Paulo, Brazil, in 2016”.

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O IPeC é uma das instituições executoras do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS)uma atividade desenvolvida para o atendimento da condicionante do licenciamento ambiental federal das atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural na Bacia de Santos, conduzido pelo Ibama. Esse projeto tem como objetivo avaliar os possíveis impactos das atividades de produção e escoamento de petróleo sobre as aves, tartarugas e mamíferos marinhos, através do monitoramento das praias e do atendimento veterinário aos animais vivos e necropsia dos animais encontrados mortos. O projeto é realizado desde Laguna/SC até Saquarema/RJ, sendo dividido em 15 trechos. O IPeC monitora o trecho 07 que compreende as praias da Ilha do Cardoso, Ilha Comprida e a Juréia (Iguape). Para acionar o serviço de resgate de mamíferos, tartarugas e aves marinhas, vivos debilitados ou mortos, entre em contato pelos telefones 0800 642 3341 (horário comercial) ou diretamente pelo (13) 3851.1779.