Todo ser humano tem, em maior ou menor grau, uma curiosidade pelo inexplicado. Buscamos tentar melhor compreender o mundo que nos cerca ao identificar padrões e possíveis explicações para os eventos, sendo que o acúmulo e transmissão dessa compreensão faz com que o conhecimento de uma geração possa ser maior que o da anterior. Entre várias formas de acúmulo e transmissão de conhecimento está a ciência, na qual pesquisadores, repetidas vezes, atualizam as explicações para os eventos ao nosso redor com base nos novos conhecimentos gerados.
No que tange a pesquisa científica de mamíferos marinhos, o entendimento do animal na natureza é essencial para gerar conhecimentos que possam ir além e embasar políticas públicas e educacionais. Dentro Projeto Boto-Cinza queremos entender quantos botos usam as águas ao entorno de Cananéia, onde se concentram, se embarcações alteram esse uso e como alteram. Para entender o comportamento dos botos nas proximidades de Cananéia, precisamos observar e ouvir os grupos e identificar os indivíduos daquele grupo, mas seria sem graça se fosse fácil, né? Cada método de pesquisa tem seus prós e contras; assim, utilizamos diferentes métodos complementares que nos auxiliam a ter um melhor entendimento do que queremos.
Conseguimos ver os botos, o tamanho do grupo, quantidade de adultos/filhotes e o comportamento de superfície quando sobem para respirar, mas isso é uma fração do que o animal está fazendo; debaixo da água a maioria das atividades são ocultas pelas ricas, porém turvas, águas do estuário. Conseguimos ouvir e gravar os sons debaixo d’água, mas se tiver dois ou mais grupos próximos à embarcação de pesquisa esses sons se misturam. Conseguimos identificar individualmente os botos, mas nem todos; não marcamos fisicamente cada indivíduo, fotografamos suas nadadeiras dorsais e identificamos marcas que nos permitem reidentificá-los em outro momento.
A observação do comportamento à superfície pode responder questões como: “qual o tamanho dos grupos?”, “quantos adultos jovens ou infantes?”, “como reagiram às embarcações que se aproximaram ou passaram?”.
Pesquisadora do Projeto Boto-Cinza durante expedição de campo em ponto-fixo para observação do comportamento do boto-cinza no estuário de Cananéia.
A gravação dos sons subaquáticos pode responder outras: “como é o som que os botos fazem depois de um barco passar… muda?”, “além de embarcações e dos botos, que outros sons estão nesse ambiente?”, “se tiver muitos barcos juntos, isso atrapalha os botos em sua comunicação?”.Pesquisadores realizam gravação dos sons produzidos pelo boto-cinza.
A fotografia das nadadeiras dorsais permite responder a outra gama de questões: “quantos indivíduos usam determinada área?”, “onde cada indivíduo foi encontrado mais vezes?”, “os botos estão sempre com os mesmo botos ou mudam de grupo?”.
Quando unimos informações vindas de diferentes métodos de pesquisa com o mesmo animal em foco conseguimos saciar um pouco de nossa curiosidade e de tantas outras pessoas acerca do boto em nossa região.
A pesquisa científica do Projeto Boto-Cinza caminha lado a lado com nossa atuação na conservação; sendo assim, todas as informações coletadas são compiladas e traduzidas para uma linguagem amigável, de fácil compreensão para o nosso público alvo. Estes são dos mais variados possíveis, de crianças nas escolas públicas a turistas de passagem e de gestores de unidade de conservação a cientistas da área.
Continue ligado em nosso blog e nas redes socais para saber mais sobre o dia-a-dia das pesquisas e alguns dos nossos resultados.
O Projeto Boto-Cinza é uma realização do Instituto de Pesquisas Cananéia e conta com patrocínio da Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental