Os Animais Conversam?

Você já parou para pensar em como os diferentes animais fazem para se comunicar? Pois bem, eles se comunicam de inúmeras maneiras, através de cheiros, sons, movimentos e até de cores para enviar e receber informações. Mas afinal, o que seria comunicação?  Bem, nada mais é do que um sinal que um organismo emite e que altera o comportamento de outro. Por trás de cada meio de comunicação está a transferência de informações de um emissor para um receptor, sendo que este pode responder de forma imediata, pode não entender a mensagem ou pode demorar a responder.

 Os animais usam desses meios de comunicação para sua própria identificação; para atrair fêmeas; para fugir ou afugentar predadores ou, até mesmo, demarcar território. Dentre as principais formas de comunicação estão: 1) A visual, relacionada com cores, por exemplo. Quanto mais colorida for a plumagem da ave-do-paraíso macho, mais fêmeas ele poderá atrair, com expressão facial ou corporal que seria quando machos ficam com uma postura mais imponente para chamar a atenção das fêmeas. 2) A por tato, ou toque quando, por exemplo, dois golfinhos se encostam ou quando o filhote de uma baleia encosta no corpo da mãe querendo leite. 3) A química, que é relacionada com hormônios e cheiros, quando um cachorro cheira o outro. E por fim 4) a sonora, que veremos mais a frente e a qual daremos mais ênfase.

Pesquisadora gravando as emissões acústicas dos botos-cinza em campo (Foto: Mariane Novelli).

Os animais produzem diferentes sons para se comunicarem e isto vai desde o rugir de um leão à “canção” das baleias, o que seria como “uma conversa”. Você sabia que os botos-cinza se comunicam embaixo d’água e que eles emitem alguns tipos de sons para isso? Dentre os tipos sonoros, estão os cliques de ecolocalização, gritos, gargarejos e os assobios.

Interessante, né? Aqui no Projeto Boto-Cinza, existe uma linha de pesquisa voltada a estudar a comunicação dos botos, a qual chamamos de Bioacústica. O estudo dos sons dos botos-cinza é importante para que possamos investigar suas possíveis funções nas atividades do dia-a-dia e os possíveis impactos de interações antrópicas, afim de melhorar a conservação destes animais que tornam Cananéia ainda mais especial. Mas como são feitas as gravações desses sons?

Os sons dos botos-cinzas são captados utilizando um equipamento chamado hidrofone, ou seja, um microfone aquático, que é colocado na água e conectado a um gravador digital que  faz o registro de todos os sons que existem embaixo d’água, incluindo as emissões sonoras destes animais. De volta a base de pesquisa do IPeC, os áudios são analisados no computador através de um programa específico para isso, em que é possível ver uma representação visual de cada tipo de som gravado, o que chamamos de espectograma ou sonograma.

Pesquisadora analisando espectograma dos sons de botos-cinza gravados em campo (Foto: Ellen F Freitas).

 

A bioacústica, sem dúvida, é uma área importante para que possamos entender melhor a comunicação de animais, principalmente daqueles que não são tão fáceis de se ter contato como baleias e golfinhos. Sabemos que os botos-cinza são fáceis de se ver em Cananéia, pois alguns residem aqui. Mas, nem sempre é assim afinal existem outros cetáceos que não são tão acessíveis como, por exemplo, baleias-piloto e os cachalotes que vivem em mar aberto e em águas oceânicas. Portanto, a acústica se torna uma ferramenta importante para se conhecer melhor a biologia desses animais e seus comportamentos.

Pesquisadora registrando as emissões acústicas dos botos-cinza no Estuário de Cananéia, Litoral Sul do Estado de São Paulo (Foto: Clarissa R Teixeira).

Fiquem atentos, pois traremos mais detalhes sobre a acústica dos botos-cinza na região de Cananéia e em outros locais que eles ocorrem!

O Projeto Boto-Cinza é uma realização do Instituto de Pesquisas Cananéia e conta com patrocínio da Petrobrás por meio do Programa Petrobrás Socioambiental.