Ecologia Comportamental

Você já parou para pensar por que nós temos tanta curiosidade em compreender os comportamentos realizados pelos animais que nos cercam? Seja em zoológicos, programas de vida selvagem e até mesmo quando olhamos despercebidamente por alguns minutos nossos fiéis felinos caçando bolinhas de papel. Se pensarmos evolutivamente, os homens mais primitivos podem ter utilizado o que aprenderam durante essas observações para arquitetar estratégias de defesa, alimentação, domesticação e por que não, para compreender seus próprios complexos comportamentos? Atualmente o estudo do comportamento animal, também conhecido como etologia, vem se consolidando como uma importante ferramenta para compreender padrões específicos de uma espécie, suas interações com outras espécies e com o ambiente em que vivem. Já a ecologia comportamental pode ser considerada um ramo mais específico e representa uma importante ciência interdisciplinar que integra fisiologia, ecologia, psicologia e aborda também quais as causas evolutivas de um determinado comportamento.

O ponto de partida para quem quer estudar comportamento animal é a descrição detalhada dos comportamentos em um catálogo, ou etograma. A partir daí o pesquisador deve ter em mente algumas perguntas clássicas: quais estímulos (do próprio animal ou do meio em que vive) provocam este comportamento? Como este comportamento auxilia na sobrevivência da espécie? Como este comportamento surgiu ao longo da evolução e se desenvolve ao longo da vida do animal? E como todas as perguntas na Ciência, estas também não são facilmente (ou rapidamente) respondidas. Por isso, vale ressaltar que o estudo comportamental requer não apenas um conhecimento prévio da espécie, mas também exige dedicação, esforço e muuuita paciência, uma vez que as áreas em que os animais vivem muitas vezes não facilitam! Você já imaginou a dificuldade em observar animais em lugares muito isolados ou inóspitos? Como, por exemplo, no alto de uma  montanha ou  nas profundezas do oceano. Pois é, e essas características particulares de cada ambiente podem tornar o processo de observação um tanto quanto desafiador.

Os pesquisadores do Projeto Boto-Cinza fazem os registros dos comportamentos em tabelas previamente definidas (Foto: Thaís Macedo)

Os animais aquáticos representam um ótimo exemplo da dificuldade que estamos falando. Algumas espécies dependem do ambiente marinho apenas para obtenção de alimento e reprodução, como é o caso de lobos marinhos e ursos polares. Outros, como as baleias e golfinhos, passam a vida inteira no ambiente aquático, subindo a superfície apenas para respirar ou realizar comportamentos muito específicos. Porém, essa dificuldade não impediu o desenvolvimento de pesquisas buscando descrever o comportamento de inúmeras espécies de mamíferos marinhos. E é graças a estas pesquisas (e a estes pesquisadores persistentes) que hoje sabemos, por exemplo, que orcas realizam estratégias de alimentação altamente especializadas e que cada indivíduo do grupo exerce uma função específica durante a caça, ou que fêmeas de cachalotes podem auxiliar no cuidado dos filhotes na ausência da mãe durante os longos períodos de mergulho em busca de alimento.

Em uma escala mais regional, vamos falar então sobre o boto-cinza, uma das pequenas espécies de cetáceos costeiros que habitam a região do Complexo Estuarino Laguna de Cananéia, no litoral sul do estado de São Paulo. Desde 1999, com a criação do Projeto Boto-Cinza pelo Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC), pesquisadores de diferentes locais e universidades vêm até a região para observar esta espécie e acrescentar conhecimento ao que já sabemos da biologia e ecologia desta espécie. Estas pesquisas buscam avaliar através do comportamento, por exemplo, como estes animais obtém seu alimento, quais as estratégias de cuidado com a prole, como se relacionam entre si e com outras espécies, como se comunicam, e por fim, como as atividades humanas (como a pesca e o tráfego de embarcações) podem influenciar seus comportamentos e, consequentemente, afetar a dinâmica e estrutura desta população.

 

Indivíduo adulto e filhote de boto-cinza nadam lado-a-lado no Estuário de Cananéia, litoral sul do Estado de São Paulo (Foto: Julia Pierry)

 

Indivíduo de boto-cinza realiza deslocamento em superfície (Foto: Julia Pierry)

Fique ligado, pois traremos em detalhes o que temos aprendido sobre os comportamentos do boto-cinza na região de Cananéia e em outros locais ao longo da sua distribuição!

O Projeto Boto-Cinza é uma realização do Instituto de Pesquisas Cananéia e conta com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental