No mês de outubro a comemoração do Dia das Crianças entra em pauta e provoca uma reflexão muito pertinente nos dias de hoje: como estão os hábitos de consumo das nossas crianças?
Precisamos pensar sobre o que é consumido para a nossa sobrevivência ou se o que está sendo consumido vai além das nossas necessidades básicas. O consumismo está diretamente relacionado à acumulação de bens e tem relação com nossa identidade social, satisfação e conforto. Esse consumismo surge, de forma mais intensa, a partir da Revolução Industrial e das mudanças que o capitalismo trouxe na relação entre modo de produção e consumo.
A premissa de que o consumismo é uma característica cultural intensa na nossa sociedade, mostra que estamos sendo cada vez mais influenciados e suscetíveis às ações de marketing das empresas e indústrias de diversos setores: bens de consumo, eletrônicos, moda, alimentos e produtos infantis. E nesse cenário, as crianças são extremamente vulneráveis à influência que as propagandas e campanhas de marketing buscam, pois o público infantil ainda não possui senso crítico para avaliar quais são as intenções desse material que está vinculado à TV e à internet.
Entre as décadas de 1980 e 1990, os espaços nos programas infantis de TV eram disputados e explorados agressivamente pelas campanhas publicitárias de produtos voltados ao público infantil, o que estimulou uma geração de consumistas precoces. E hoje a internet representa esse novo espaço, com propagandas disfarçadas de brincadeiras que visam o consumo infantil. Apesar dos esforços do Conselho Nacional Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) para monitorar e diminuir o apelo da mídia focado nas crianças, há uma cultura do consumo cada vez mais intensa para atrair esse público.
Sabemos que muitos pais não conseguem acompanhar tudo o que as crianças assistem, e a maioria delas, mesmo sem perceber, é diariamente bombardeada por propagandas oferecendo produtos definidos como necessários. Porém, esse cuidado não deve recair apenas sobre os responsáveis pela criança, pois o processo de estimular o consumismo infantil é parte de um ciclo de produção e consumo muito maior, a publicidade que está em função dessas grandes empresas precisa ser mudada.
Mas afinal, por que o consumismo infantil é preocupante?
As consequências desse processo, em muitos casos, podem ir desde a obesidade infantil (pela ascensão de produtos industrializados com altos teores de gorduras e açúcares) até a erotização precoce, depressão, ansiedade e a busca de satisfação emocional através do ato de comprar.
Outra preocupação é que as crianças passam a achar que consumindo determinado produto elas podem se tornar a pessoa que a publicidade define como ideal. Entretanto, ao adotar esse padrão de compreensão na infância, ela pode se tornar um adulto que fundamenta suas relações em valores consumistas e não em princípios como honestidade, respeito e justiça, gerando impacto nas suas relações sociais. Além disso, nem todas as crianças podem comprar os produtos oferecidos pelas propagandas e isso também afeta o seu bem-estar, gerando um sentimento de baixa autoestima.
Sendo assim, podemos pensar que a cultura do consumo visa o público infantil como uma estratégia para garantir o sucesso do sistema de produção: uma criança consumista possivelmente se tornará um adulto consumista, que pode associar a posse de bens materiais como um elemento fundamental para o seu bem-estar e felicidade, e isso não é saudável.
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